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Síndrome do pânico – Por que pensamos a todo tempo que vamos morrer?

Entenda porque nós, ansiosos, sempre achamos que estamos à beira da morte e como mudar isso.

Nós humanos temos um instrumento poderoso chamado cérebro. O córtex é responsável pelos nossos pensamentos lógicos, onde tomamos decisões, aprendemos coisas novas e onde podemos acessar informações. Já o restante do cérebro opera por conta própria trabalhando para garantir a nossa sobrevivência. Vamos falar dessa área do cérebro que é responsável pelos nossos medos.

O mecanismo de fuga e luta é o que nos protege de um perigo mortal.

Imagine um homem das cavernas. Ele sai para sua caçada, mas de longe ele é observado por um leão. O leão se aproxima sem ser notado e pula na frente do homem soltando um estrondoso rugido. Neste momento, entra em ação o cérebro inconsciente ativando o mecanismo de fuga ou luta. Antes mesmo que possamos pensar em qualquer coisa, seu corpo já está preparado para fugir ou lutar. E as características desse mecanismo todos os ansiosos conhecem: batimentos acelerados, a pressão aumentada, calor repentino, suores, náuseas, cabeça “flutuando”.

Antes que o leão possa mover-se, o homem das cavernas já saiu correndo. Depois que ele consegue despistar o leão, seu corpo relaxa voltando ao normal aos poucos. Seu cérebro computa o que foi aprendido nessa experiência e segue a vida. Da próxima vez, estará mais preparado.

No dia seguinte, o homem das cavernas passa pelo mesmo local onde o leão tentou atacá-lo. Antes mesmo de se aproximar, ele sente um friozinho na barriga, fica mais cauteloso observando os arredores. É o medo. Mas nenhum leão aparece. Ele respira fundo e segue seu caminho.

O cérebro aprendeu que o local e as condições do ambiente eram semelhantes ao de quando o homem foi atacado. Logo, já disparou o sinal para o corpo todo ficar preparado, ou seja, o homem ficou com medo.

O medo nada mais é do que uma importante ferramenta utilizada pelo cérebro para garantir nossa sobrevivência. Ele nos faz mais cautelosos à medida que vamos aprendendo mais sobre o mundo que nos cerca. Se não tivéssemos medo algum, não nos protegeríamos de qualquer perigo e morreríamos.

O medo é a ferramenta que o cérebro usa para evitar situações de perigo de morte.

O medo é algo normal de todo o ser humano, mas na pessoa que sofre de ansiedade, ele é exagerado a ponto de paralisar. O homem das cavernas segue a vida quando vê que não exista o perigo real. Já o ansioso sofre com o frio na barriga mesmo que ele não exista. Ou seja, o cérebro do ansioso está tão antenado que mesmo que não exista perigo real, ele continua se preparando para o perigo.

Agora vamos fazer um exercício mental para entender como o cérebro do ansioso funciona no lugar do homem das cavernas.

No dia depois de ser surpreendido por um leão, o homem das cavernas retorna ao local. Ele aprendeu com sua experiência passada, que o farfalhar é um sinal de que o leão pode estar escondido nas folhas. Quando ele escuta um farfalhar, ele fica atento. Procura com o olhar, mas não encontra o leão.

Mas ainda mais cauteloso ele decide, inconscientemente, que o leão pode estar escondido e quieto atrás de um farfalhar mais fraco. Ele observa cada pequeno farfalhar, mas são muitas e muitas folhas para observar. Ele não encontra o leão e está cada vez mais atento e cada vez mais tenso.

De repente um vento forte bate nas folhas, farfalhando-as com força! E nosso homem das cavernas ansioso toma o maior susto de sua vida! Sem se dar conta que o vento foi o autor dessa ação, ele decide que é perigoso demais ficar ali, mesmo com poucas evidências reais de perigo. Aliás, prefere agora seguir pelo rio pois assim não tem que se preocupar com tantas folhas se mexendo.

O homem das cavernas sai tremendo, como se tivesse fugido do próprio leão, mas de fato, nada aconteceu.

Mas o que realmente aconteceu? Não se sabe exatamente a razão pela qual algumas pessoas tem o medo mais exacerbado do que outras. A verdade é que esse medo que deveria auxiliar o indivíduo a prolongar sua vida, acaba paralisando-o frente a um irreal perigo mortal. E isso tudo acontece na parte do nosso cérebro que é inconsciente, ou seja, que age independente da nossa vontade.

É por isso que nos sentimos tão frustrados quando temos uma crise e sofremos mesmo tendo a consciência de que ela vai passar. Nosso cérebro consciente nada pode fazer neste momento.

Podemos ensinar nosso cérebro a não ter medo através de experiências positivas

Você deve estar se perguntando: “então é isso? Não tem o que fazer?”
Não é bem assim.

Nós sabemos que o aprendizado, que é uma ação consciente do cérebro, gera ações inconscientes a longo prazo. Eu explico.

Já ouviu falar na expressão que diz: “é como andar de bicicleta”. Você pode não ter andando por anos, mas ao subir em uma, já sai andando sem problemas. É exatamente isso.

Quando estamos aprendendo a andar de bicicleta, nosso cérebro consciente está ativo e aprendendo tudo o que precisamos saber: se equilibrar na bicicleta, olhar para frente, como posicionar os pés, mover os pedais etc.

No começo sofremos várias quedas. ficamos olhando para o pedal e esquecemos do guidão… Mas com o tempo, esse aprendizado vai para o inconsciente. Logo, depois de aprendido, você só olha para frente, o restante dos movimentos não precisam mais de sua atenção consciente. Você está pedalando, equilibrado na bicicleta, sem pensar. Você pedala automaticamente.

Isso quer dizer que podemos treinar nosso cérebro a não ter medo através de experiências positivas. Aí vem aquela frustração de novo: “mas eu sei que não existe perigo, mas mesmo assim acontece a crise. Não adianta.”

Vamos pensar no homem das cavernas. Agora ele está com tanto medo que nem anda em meio as folhas, somente pelo rio, mesmo nunca tendo encontrado o leão de novo nas poucas folhas que viu de longe. Agora vamos imaginar que em um arbusto farfalhando de leve, ele encontra uma deliciosa fruta. Ele aprende que farfalhar pode trazer uma recompensa.

O medo diminui para dar espaço ao provável bem-estar que se segue após um farfalhar de folhas.

Conclusão: o medo exagerado é inconsciente e patológico, mas pode ser contornado com experiências positivas

Cientistas tentarão de tudo para entender o ponto exato do medo e os distúrbios relacionados a ele. Mas como não se trata de algo exato, mas de uma experiência única de cada indivíduo, o terapeuta é um grande aliado para lidar com o distúrbio de ansiedade.

Com a ajuda de um terapeuta, podemos identificar em nós mesmos, quais são os “farfalhares” que despertam nosso medo patológico. Com as terapias, podemos ter a ajuda necessária para criar novas e boas experiências e nos tornar livres.

Cada vez mais, aprendemos sobre o funcionamento do cérebro humano e com isso, também como viver com o melhor desse poderoso instrumento de maneira feliz e saudável.

Vale lembrar que o texto aqui exposto é uma expressão pessoal minha baseada em livros e também em experiência própria. Sempre consulte um médico de confiança para esclarecimentos.

Livros:
– Cérebro ansioso – Dr. Leandro Teles
– Hidden in plain sight 11 – Andrew Thomas

Texto por Amarilis Schneider

Crédito das imagens: Pixabay

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